De volta às grandes causas, e desta vez, a banda escolhida foi os Smiths, os reis e senhores da música indie, grandes impulsionadores do brit-pop. A banda que influênciou todas as bandas que hoje em dia são grandes (Suede,Radiohead,Stone Roses, Oasis...). Misturava como ninguém a música com a letra, muito devido aos dois génios da fotografia em cima. Enquanto Marr fazia verdadeiros hinos de canção pop, Morrissey escrevia letras tão profundas, sinceras e intensas, que faziam qualquer ser humano estremecer quando as ouvia.
Vamos então falar da banda que em apenas 5 anos de história (peço-vos atenção à ordem cronológica) mudou a face da música, e marcaria uma geração.
Morrissey com 22 anos ficou supreso com a visita, todavia mandou-o entrar. Foram até ao quarto de Morrissey onde este afirmou "ter passado toda a adolescência em frente a uma máquina de escrever".
Depois de uma conversa em que descobriram gostos similares, decidiram juntar-se formar uma banda. Anos mais tarde Morrissey definiu esta visita como um "salvamento da morte".
Mais juntaram-se Mike Joyce e Andy Rourke, e agora já poderiam ser uma verdadeira banda.Decidem optar pelo "Smiths", ora Smith (em português Silva), é o mais utilizado e mais banal apelido em Inglaterra. A sua escolha deve-se aos nomes complicados e pomposos que as bandas da altura começavam a escolher (que os Depeche Mode são um exemplo).
A banda no fundo era o fruto da mente de 2 génios musicais, Marr e Morrissey, que embora fossem bastante diferentes (Morrissey era um verdadeiro excêntrico,tímido e introvertido, e Marr um rapaz simples e lingrinhas), sofriam uma dependência mútua muito grande.
Uma última curiosidade, consta que a banda na hora de encontrar uma editora, bateu à porta da famosa Factory Records (Joy Division, A Certain Ratio, Happy Mondays...), mas que na altura o patrão da Factory, o não menos famoso Tony Wilson recusou contratá-los pois achava que eles seriam demasiado grandes para aquela editora. Mais tarde a banda assinaria pela também mítica Rough Trade, famosa pela sua tendência indie.
O primeiro disco sai em 1984 com o nome The Smiths. Na capa um dos heróis de Morrissey, James Dean.
O albúm ganhou atenção instantaneamente, devido à riqueza e factor polémico das suas letras. Morrissey escrevia letras com bastantes referências bibliográficas, escritores como Oscar Wilde, Jack Kerouac, eram grandes inspirações. Todavia a canção The hand that rocks the cradle, inspirada em vários poemas especula-se que seria sobre pedofilia. Tal facto foi prontamente negado pela banda (jornalistas que não têm nada para fazer).
Ao longo desse ano a banda lança vários singles, todos eles com bastante sucesso. São exemplos disso William, it was really nothing e a minha favorita How soon is now?.
No meio deste ascenção vertiginosa, a banda sofre a primeira perda, Joe Moss o manager da banda, o homem que mostrou o documentário a Johnny Marr decide afastar-se, pois repara que a sua relação com Johnny Marr começa a ter reflexos no comportamento de Morrissey, que se torna cada vez mais possessivo em torno do génio de Marr.
Em 1985 sai Meat is Murder, título alusivo ao facto de Morrissey ser um vegetariano "extremista", consta que proibiu os outros elementos da banda de serem fotografados a comer carne. Mas mais importante que isto é o facto do começo da politização das letras.É nesta altura que a crítica política começa. Os Smiths começam a disparar para todos os lados, para o corporativismo, para o castigo corporal nas escolas, para o governo de Margaret Thatcher (mas será que houve algum músico que gostasse dela?) que por aquela altura invadiu a Etiópia, e contra a realeza britânica tema que seria revisitado no próximo disco. Musicalmente Marr é impressionante. Mistura temas musicais muito dispersos como o rockabilly, o punk, o rock, a balada, a música de dança, e mantém aquele gosto aquele travozinho tão indie, tão próprio dos Smiths. No fundo a música de Marr é complemento perfeito para as letras de Morrissey. Só uma música de Marr consegue controlar o ouvinte de criar uma revolução imposta pelas letras de Morrissey.
(Capa do disco The Queen is Dead)
Pouco tempo após a saída promocional Bigmouth strikes again, sai em 1986 a obra-prima da banda. The Queen is Dead.
Se as letras marcaram o albúm anterior, neste a música dominou. Eram algo de verdadeiramente contagiante, os riffs da guitarra, a simplicidade melódica, a facilidade de bater o pé ao ouvir as músicas eram algo de impressionante. Uma experiência única.
Não se fique a pensar que as letras de Morrissey desiludiam, pois como já disse estes génios eram completamente dependentes. Morrissey mantinha a crítica à monarquia, parafraseva tudo o que lhe interessava, livros, filmes, fait-divers, utilizava o humor mordaz...tudo isto pode-se entender como as figuras de estilo da sua escrita.
Todas as música do disco são muito boas mas essenciais são There's a light that nevers runs out e The Boy With the Thorns in is side.
A cumplicidade entre Morrissey e Marr era avassaladora. Num programa de televisão inglês apareceram com brincos iguais, Marr usava o seu na orelha esquerda e Morrissey na direita. por esta altura começam também a surgir alguns problemas, Rourke é despedido devido ao seu vício em heroína. Entretanto saem os singles Shoplifters of the world unite, The World Won't Listen (onde Morrissey se queixa da falta de reconhecimento),
Em 1987 sai o seu último registo, Strangeways, Here We Come. O título é inspirado numa comédia e na prisão de Manchester (Strangeways). E aqui começa-se a notar que nem tudo vai bem no reino da Dinamarca. A letra da música I won't share you pensa-se que foi escrita por Morrissey sobre Marr. Morrissey demonstra-se ciumento por Marr trabalhar com outros artistas.
Quando questionado pela intrepertação da canção Marr respondeu:"...não sou de ninguém para ser partilhado...".
Marr compõe as músicas da ode de despedida. E que bela ode saiu. I Keep Mine Hidden, Girlfriend in a Coma, e Last night I dream't that somebody loved me serão sempre músicas para recordar, carregadas de significado e sinceras.Depois do lançamento aconteceu uma reacção em cadeia que Marr apelida de "acontecimentos internos que acabaram com uam miséria desnecessária". Uma série de factores começou a causar cisões entre a amizade de Marr e Morrissey. Até que Marr decide dar uma abanão. Pede à banda para redirecionar a sua imagem e o seu som, coisa que foi intrepertada pelos seus colegas como uma resignação. Marr decide então afastar um pouco da banda sempre na esperança que eles fossem atrás dele, aceitando as suas ideias. Todavia a banda continuou.
Esta separação afectou bastante todos os elementos da banda, mas Morrissey, com o seu coração tremendamente sensível e frágil, foi o reagiu pior.
Isto, na opinião de modesto ser humano, foi um enorme mal-entendido. Coisas que ficaram por dizer cara-a-cara, e que no final vieram pelas bocas de outras pessoas. Exemplo disso foi a forma como Marr foi afastado de vez da banda. Através de um comunicado libertado pela editora e nunca da boca dos seus colegas.
E assim tudo acabou e entra em campo o orgulho doentio. Os elementos da banda foram para tribunal em disputa pelos direitos musicais, e monetários.
Morrissey através do sarcasmo e mordacidade como sempre ia mandando as suas "bocas", dizendo que: "Antes preferia comer os meus próprios testículos do que voltar a juntar-me com os Smiths..." frase que completou dizendo:"...e isto vindo de um vegetariano quer dizer alguma coisa."
Todavia tanto Morrissey como Marr sempre admitiram que eles eram o coração e a alma da banda.
Nos dias de hoje Morrissey tem uma interessante carreira a solo, continuando a mostrar na sua letra o seu coração medroso, e há muitos anos partido. Marr continua a ser um embaixador da música militando agora na banda americana Modest Mouse. Recentemente a banda recebeu propostas milionárias (na ordem dos milhões de libras!!!) para se reunirem, mas que tanto Marr como Morrissey refutaram dizendo que seria a reunião pelas razões erradas.
Todavia há esperança no ar, já que Marr afirmou:"Mas no futuro quem sabe? Já aconteceram coisas mais estranhas..."
E com esta ideia percorrendo-me a cabeça que acaba a história deixando a letra de How Soon It's Now?, que qualquer parecença com alguém vosso conhecido não passa de mera coincidência:
How Soon Is Now? - The Smiths
I am the son
And the heir
Of a shyness that is criminally vulgar
I am the son and heir
Of nothing in particular
You shut your mouth
How can you say
I go about things the wrong way ?
I am human and i need to be loved
Just like everybody else does
I am the son
And the heir
Of a shyness that is criminally vulgar
I am the son and heir
Oh, of nothing in particular
You shut your mouth
How can you say
I go about things the wrong way ?
I am human and i need to be loved
Just like everybody else does
Oh ...
Oh ...
There's a club, if you'd like to go
You could meet somebody who really loves you
So you go, and you stand on your own
And you leave on your own
And you go home, and you cry
And you want to die
When you say it's gonna happen "now"
Well, when exactly do you mean ?
See, i've already waited too long
And all my hope is gone
Oh ...
Oh ...
You shut your mouth
How can you say
I go about things the wrong way ?
I am human and i need to be loved
Just like everybody else does
Ok ?
Valete Frates
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