Por vezes perco-me a olhar para as minhas mãos. Completamente parado no tempo e no espaço, especado a olhar para elas. Umas vezes parecem-me grandes e finas, outras vezes pequenas e inchadas, umas vezes vermelhas, ou pálidas como a neve. Sinto-lhes o sangue a correr por dentro das veias que vejo à flor da pele. Tenho quase constantemente as mãos geladas e suadas.E depois divago...
Será possível representar pessoas e relações através das posições das nossas mãos?
Isso já o fazemos um bocado, mas penso que achei um teorema curioso para expôr certos conceitos da condição humana. Por favor tentem seguir o raciocínio.
Eu vejo-me a mim próprio como um punho esquerdo fechado, enclausurado dentro de si mesmo, sofrendo pela própria força que faz com as unhas para se fechar e disposto a esticar-se sempre que se sente ameaçado.
Em contrapartida conheço pessoas que a palma está completamente aberta e exposta para todo o mundo ver. A mão quase que nos é empurrada pelos olhos a dentro. Nela conseguimos ver as cicatrizes do passado, os calos (ou falta deles) do presente e com alguma segurança seguir as linhas do futuro e prever o dia de amanhã.
Um outro exemplo são aqueles que mantêm a palma da mão aberta para cima, como pedintes. Implorando que alguma outra mão lhes deixe cair alguma esmola ou que lhe caia algo do céu. Em contra-senso com estes temos aqueles que viram a palma para baixo escondendo dos seus superiores o seu interior mas sempre dispostos a bater nos que estão abaixo, muito à forma da saudação nazi.
E depois destas ideias sobre mãos, vêm a forma com elas se relacionam. As nossas relações com os outros e a razão pela qual elas não funcionam. Passo a dar alguns exemplos.
Imaginemos duas mãos fechadas que se relacionavam muito bem e que se abrem uma para a outra, só que enquanto uma procura felicidade mundana e alegria, no fundo a realidade (representada pela mão direita), a outra não sabe o que procura, perde-se em idealismos, sonhos e ideias vanguardistas (representada pela mão esquerda). Por muito que se queram juntar nunca será possível, pois procuram coisas diferentes da vida.
Outro caso possível de ver são duas mãos iguais, que na teoria deviam funcionar correctamente mas quando abertas uma perante a outra é como um espelho, e aquilo que vemos não é exactamente aquilo que gostamos e com o tempo torna-se impossível um aperto de mão sequer.
Como podem ver é bastante complicado encontrar a combinação certa, assim também é encontrar a companhia certa.
Mas à mãos com sorte que encontram a parceira que as satisfaz, com carinho e devoção. Mas é aí que normalmente deitamos tudo a perder, e é aí que criamos os remorsos para o resto da vida. É no momento em que decidimos andar de mão dada, sufocando e amordaçando a mão nossa parceira. Esquecemo-nos que é mais importante interlaçar os dedos no escuro, do que andar pela rua mostrando a todos o quanto efémera e banal é a nossa companhia.
Não sei se consegui demonstrar o sentido do pensamento que por vezes tenho na minha mente quando olho para as minhas mãos, infelizmente não sei linguagem gestual.
Valete Frates