segunda-feira, setembro 22, 2008

Um leopardo muda sempre as suas pintas

Lembrando as várias pessoas existentes em Fernando Pessoa, um simples mortal pergunta-se a si mesmo: "Terá sido Pessoa um génio esquizofrénico, ou muito simplesmente sensível ao ponto de reparar em todas as diferentes facetas que emerginam dentro de si?"
Acredito mais na segunda opção. Pois olho quando olho para dentro e mediante a forma como acordo (não me refiro ao mau-humor já que é o meu estado normal) posso reagir de forma diferente aos mesmos estímulos rotineiros.
Tenho diferentes camadas como a superficie terrestre. Uma mais suave e fértil, facilmente penetravel, outra mais escondida e misteriosa, outra dura e rochosa...Não quero com isto dizer que quanto mais fundo penetro dentro da minha alma, pior pessoa sou, já que as camadas estão paralelas e não sobrepostas. Todas elas são uma amostra para o mundo daquilo que sou.
Feita a devida introdução teórica, tenho uma questão a lançar. Será que ao encontrarmos essas diferentes camadas, quando encontrarmos algo que não gostamos podemos ignorá-lo? Podemos simplesmente dizer para nós próprios que aquilo não existe e através da auto-sugestão negar essa parte da nossa persona?
Posso dizer que já presenciei isso a acontecer. Uma pessoa entrou em "negação positiva", e recusou-se a acreditar que se estava a queimar lentamente, desperdiçando-se e recusando simplesmente abrir os olhos e ver o que toda a gente via. E essa sua "verdade" acabou por tornar-se realidade na sua cabeça. Por outras palavras, ele deixou de se ver como um cobarde e/ou perguiçoso e passou a apresentar-se como um ser confiante e seguro. Todavia ele não mudou, continuou a ser o que era, passou a viver numa realidade diferente, num sub-mundo pessoal onde ele era o heroi. Será esta a verdadeira psicose?
Riscar cada traço da nossa alma quando é algo negativo ao invés de o aceitar todas as nossas penas?
Não digo para andarmos a mostrar ao mundo que somos seres egoístas, vingativos, odiosos, gananciosos, vaidosos ou outra coisa semelhante já que normalente não são "qualidades" que nos orgulhemos, mas pelo menos admitir para nós quem somos verdadeiramente e se possível tentar alterar alguma face que gostemos menos.
Isto pode parecer algo de muito simples, portanto digo-vos uma coisa: se se acham puros e bons, fortes e corajosos, vai até ao espelho e meditem sobre o vosso reflexo. Tenho a certeza que a uma dada altura serão obrigados a desviar o olhar.

Valete Frates

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