sábado, novembro 18, 2006

Rain Dogs


Recentemente comecei a prestar mais atenção à maravilhosa obra de Tom Waits, mais concretamente ao álbum Rain Dogs. E estas duas palavras fizeram-me pensar...
O que seria um Rain Dog? A resposta estava lá.
Um cão quando anda à chuva fica perdido, sem orientação, perde o seu olfacto. Tom Waits aproveitando esta situação e definiu uma metáfora na qual cria um grupo ao qual chama Rain Dogs. E os Rain Dogs são aqueles que povoam as nossas ruas, que enchem os nossos bares, pessoas sem rumo e sem direcção que ao longo do caminho se perderam, estas são as pessoas ás quais a vida não sorriu, virou sempre a cara ao lado, todas as estradas que seguiram ao longo da vida eram todas em sentido contrário. Falo como é óbvio dos sem-abrigo, dos bêbados, dos solitários, das prostitutas, dos homens e mulheres que caminham sozinhos sem companhia e amor nas suas penosas vidas.
Ninguém consegue compreender a situação a não ser as pessoas que passam por isso. Podemos tentar imaginar, mas nunca saberemos na realidade o que se passa ali, que coisas já viram aqueles olhos.
Vamos tentar imaginar. Pensem que estam num negócio que pode mudar as vossas vidas, como sempre estes negócios exigem correr bastantes riscos e fazer muitos sacrificios. E agora pensem que um tipo que vocês julgavam ser vosso amigo vos atraiçoa, e tira-vos tudo o que tanto trabalharam para conseguir de um momento para o outro. Confiavam em mais alguma pessoa para o resto das vossas vidas?
E como seria acabar os vossos dias sem confiar em ninguém? Provavelmente refugiavam-se no alcóol, não?
Ou muito simplesmente pensem que desde do momento em que nasceram nunca tiveram um pedaço de chão que a vós vos pertence-se. Nunca possuiram algo que fosse vosso, nunca tomaram o gosto a comida bem confeccionada, e assim morreriam um dia sem provarem as coisas boas que a vida tem para oferecer, sem deixarem um legado que prepetua-se a vossa memória neste mundo que é de todos nós.
Pensem que que a única forma que têm para pagar as contas é vender o vosso corpo, sujeitos a todos os demónios que vos apareçam à frente.
Isto tudo para dizer que estes "fantasmas" que parecem andar por aí escondidos, têm rosto, e reflexo no espelho. São pessoas que por muito que tentemos fazer de conta que não existem, e por muito que as ignoremos, estaram sempre lá, a concentrar os nossos medos, a exorcizar os nossos demónios, e a avisar-nos que o Diabo anda aí, e eles sabem porque já o viram nos olhos, e se for preciso já comeram com ele, já riram com ele, e já dançaram com ele, até que ele mostrou a sua cara e mudou a sua vida para sempre. Todos nós estamos à mercê dele convém não esquecer.
Estes são os guardiões da noite, e esta a eles pertence é bom que nos lembremos disso. Todas as figuras abstrats que vivem também na noite eles já as conheceram a todas, e a sua sabedoria pode ser muito importante para nós.
Cabe-nos protegê-los durante o dia, e tirá-los das ruas à noite. Porque à um limite para a cabeça de cada pessoa, e ultrapassando esse limite, eles deixam de ser pessoas, e tornam-se fantasmas de realidade. Que nos interessa preocuparmo-nos se queremos comprar a camisola às ricas ou a camisola às bolinhas se à gente que nem um camisola tem para vestir?
Se nada temos para dar, temos sempre algo para ofercer. Um simples olhar de compaixão (por favor não confundir com pena) basta para eles conseguirem aguentar mais uns tempos. Não custa nada soltar um sorriso.
Acabo com uma frase de Tom Waits: "For I am a rain dog, too..."

Valete frates

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