Hoje apetecia-me falar do Supra-Camões, queria partilhar a minha teoria convosco.
Para mim o Supra-Camões já estava cá. E foi encarnado em duas pessoas: Fernando Pessoa e António Variações.
O quê???
Passo a explicar, a obra de Pessoa é imensa e cheia de plenitude e genialidade, mas carecia de uma pequena falha, a linguagem empregada não era acessivél a todo e qualquer português, não era que ele usa-se palavras muito "caras", nós é que eramos (e talvez ainda sejamos!) mesmo ignorantes e desinteressados.
Ora Variações tem na sua obra um paralelismo muito interessante e evidente com a obra de Pessoa, que por sinal era um dos seus ídolos, mas as palavras e ritmos de Variaões eram mais simples e direccionadas ao povo, não tinham subterfugios nem verdades escondidas. Eram exactamente aquilo que se ouvia.
O que quero expôr com isto é esta dualidade Pessoa-Variações, em que um tinha a ideia original bela, complexa e sonhadora e o outro convertia essa mesma ideia para algo que qualquer analfabeto a conseguisse compreender.
E para provar esta minha teoria do duplo Supra-Camões de uma maneira numérica, assim muito ao estilo de Nostradamus, Pessoa nasceu a 13 de Junho de 1888 (sim, este ano comemoram-se os 120 anos do seu nascimento) e António Variações morreu a 13 de Junho de 1984. Fim do círculo.
Esta teoria tem mais provas e assuntos por aprofundar, mas isso fica para quem tiver dúvidas. Agora só falta saber para quando as suas visões e previsões se vão concretizar e nós vamos ser tudo aquilo que realmente podemos ser.
Valete Frates
4 comentários:
Jack Blake Love:
Não sou supersticiosa, nem acredito nesse tão falado 5º Império, em que Portugal ressurgirá como uma super potência mundial.
Somos o que somos, com uma grande carga histórica, e uma herança literária magnifica, Camões legou a todos os portugueses a sua grandiosa obra, Lusíadas, que enaltece este humilde povo com as mais incríveis bravuras.
Pessoa, poeta complicado que carrega consigo o estigma de se querer igualar a Camões e que nunca o consegue, porque o país é outro. Portugal na época de Pessoa não é mais o país glorioso e conquistador, dono de metade do mundo e pejado de riquezas. É sim um Portugal deprimido, assombrado pelo progresso, pelas guerras sucessivas, pela crise monárquica, Portugal a ter de abandonar duas das suas grandes colónias africanas, as consecutivas revoluções republicanas, entre outros acontecimentos que entristecem o povo português.
Então Pessoa, poeta descendente de Camilo Pessanha e do seu Simbolismo, é um poeta depressivo que reflecte nos seus poemas o estado do seu país triste e melancólico, que busca as eternas glórias de um passado distante.
E permite me discordar contigo quando dizes: "a linguagem empregada não era acessível a todo e qualquer português, não era que ele usa-se palavras muito "caras", nós é que éramos (e talvez ainda sejamos!) mesmo ignorantes e desinteressados." A linguagem de pessoa é completamente acessível e compreensível, o problema é que para se entender pessoa tem de se voltar muitos anos atrás, e entender o contexto histórico-literário, a crise social, e de entidade que o país atravessava. Mas o leitor português é preguiçoso, e desinteressasse de tudo o que exija mais trabalho que o habitual. E Fernando Pessoa não se lê de animo leve, como que lê uma história de embalar, lê se com toda a carga negativa nele impregnada, e sabendo que corremos o risco, de após uma leitura mais demorada e profunda, de ficarmos deprimidos e com uma tremenda crise existencial.
Quanto á questão de António Variações ser uma tradução fiável e congruente da teoria Pessoana, dou te os parabéns porque é totalmente verdade, e poucas são as pessoas que fazem esta ligação improvável. A necessidade constante de se ser outra pessoa, longe daquilo que se é... Uma típica crise existencial Pessoana.
Este comentário está longo, termino assim, com a noção que acerca de pessoa, teria muito mais para escrever...
Bjokas ;)
crazy_girl:
Gostei de ler o teu comentário, embora continue a discordar em alguns aspectos. A tua análise histórica-social está correctíssima. Ambos os poetas são de épocas diferentes, cantando feitos parecidos. Mas enquanto Camões se remete para o presente e escreve uma obra magnífica sobre a época dourada dos descobrimentos, Pessoa faz mais do que isso. Ele exalta feitos do passado, usa-os para criticar o presente e antecipa o futuro. "A Mensagem", obra a que me refiro, é intemporal, consegue ser facilmente encaixada em vários momentos da era moderna, pelo contrário "Os Luisiadas" é uma epopeia grandiosa ao nivel das de Homero, mas é incompativel com o actualidade como é óbvio. Aliás ainda hoje "A Mensagem" é uma obra actual (infelizmente) sendo que passamos por problemas parecidos ao dessa altura, descrença, pobreza, depressão e crise. Também tens razão ao dizer que Pessoa tem uma escrita depressiva, mas já reparaste como a sua mensagem é recheada de esperança? Esperança como nunca ninguém nos deu? Dizer que um dia seremos o exemplo para a humanindade? Saberás que o 5º Império não é material, mas sim espiritual. Nós seremos o exemplo que o mundo irá adoptar. Claro que ainda falta caminhar imenso para atingir esse destino, mas diz-me não é um objectivo glorioso?
Vejo que temos opiniões um pouco dispares sobre a obra de Pessoa, mas numa coisa concordo contigo, Pessoa é um assunto demasiado grnade e complexo para ser debatido aqui.
Fico sempre contente com os teus comentários, pois muitas vezes estimulam a discussão de temas pouco habituais. bjs
P.S.: Se tiveres "A Mensagem", à mão dá uma vista de olhos ao último poema "Nevoeiro", talvez compreenderás um pouco melhor ao que me refiro.
Jack Blacke Love:
Esta é a analise que faço do poema:
Neste poema, o último de Mensagem, Fernando Pessoa transmite uma imagem desencantada da realidade do Portugal dos seus dias... mas para concluir que essa situação é, afinal, o nevoeiro de que falam as profecias e que marcará o regresso de D.Sebastião. A conclusão de que o nevoeiro que se esperava não é, afinal, literal (físico) mas antes simbólico (social e político) permite-lhe acabar o Poema com uma "volta" final ao gritar: "É a Hora!".
"fogo-fátuo"- chama azulada, em geral breve, resultante da combustão espontânea de uma mistura de metano e ar em determinadas proporções. O metano (gás dos pântanos) é produzido naturalmente pela decomposição da matéria orgânica, vegetal ou animal. A combustão produz calor, mas como é muito breve a chama pode parecer fria.
Tenho uma cadeira chamada Estudos Pessoanos, onde discutimos estes temas...
Não é só a "Mensagem" que é actualizada, mas sim toda a obra de pessoa. E apesar de na "Mensagem" estar latente uma mensagem de esperança, também lá está todo o espírito depressivo, basta uma segunda análise mais profunda e entenderás isso. Pormenores como uma palavra podem alterar, muita coisa numa segunda leitura... E entendemos nas palavras de pessoa um saudosismo, uma melancolia, e uma necessidade de que o passado se repita, pois só quando esse passado regressar poderemos ter um futuro. Eu tenho um orgulho no meu passado, mas quando olho pra ele fico deprimida, por saber que não se repetirá, como Pessoa tenta fazer crer...
Bjokas ;)
crazy_girl:
Já tinha ideia que ao entrar contigo nesta discussão estaria no fundo a pregar a um padre. ;)
A análise que tu fizeste do "Nevoeiro" é precisamente a mesma que eu fiz, aliás fiz com a ajuda do mais brilhante professor que tive de sempre (se tiveres tempo procura nos teus livros de português do secundário, o nome Vasco Moreira, cá para o norte ele está em todos). Concordo com tudo que disseste pois essa é também a minha opinião, o próprio Pessoa vaticina como sendo uma virtude do 5º Império o saudosismo. Mas agora esse reviver do passado...Não sei, acredito que eu esteja incorrecto mas não consigo abraçar essa ideia. Acredito mais que seja uma forma de inspiração esse relembrar do passado, contrapôr o que fomos com o que somos e assim motivar todo um povo. "Envergonhar" o nosso espirito por se ter tornado fraco e débil. Utilizando o pouco que lembro de psicologia, usar um estimulo negativo como forma de alterar o nosso comportamento.
Mas volto a dizer que nesse aspecto é única e somente a minha opinião. Penso que em toda a obra temos um apanhado geral das ideias que o artista quer passar, apartir daí será um pouco interpretação de cada um. A título de exemplo as diferentes interpretações do marxismo, deram origem ao leninismo, ao maoismo, ao trotskismo, ao estalinismo. No fundo podemos partir todos da mesma filosofia, mas no final, a ideia que retemos e que aceitamos como verdadeira, toda ela tem o nosso cunho pessoal e distinto.
Por último queria agradecer-te por puxares este assunto. Discussões como esta deixam-me deveras interessado e atento. Já para não falar que me "obrigas" a recordar certos temas e assuntos que pensava esquecidos.
Bjs, e fica sempre à vontade para intervires.
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