quinta-feira, maio 01, 2008

Onde param os ideais?

Antes da revolução era assim. Por onde a censura passava o seu famoso lápis, era certo que essa publicação nunca mais viria a luz do dia. Tudo o que fosse contra o regime ou amigos do regime era logo colocado de lado.
No desenho acima vemos algo de muito simples mas que explica muito das lutas dos trabalhadores pelos seus direitos, por melhores condições laborais e sociais, pelo reconhecimento do seu papel. A representação máxima das suas lutas era o reconhecimento do 1º Maio, o feriado do trabalhador. O dia que marca a luta dos trabalhores e operários contra a opressão e exploração da burguesia e da entidade patronal.
Com o 25 de Abril toda a gente pensava que o poder estaria de volta ao povo. Porque usaram as palavras "de volta" ainda não percebo tendo em conta que o poder nunca esteve, nem está do lado do povo.
Se naquela altura, em tempos ditaturiais os trabalhores eram explorados e mal-pagos, como estão eles hoje?
Continuam a ser explorados e mal-pagos. Exemplo máximo disso temos o dia de hoje, em que muitas fábricas não respeitam o feriado, e as grandes superficies mantêm as lojas abertas.
Culpados disto somos todos, que não fazemos ouvir a nossa voz e por vezes ainda pactuamos com este tremenda ofensa à liberdade.
Devemos fazer ouvir a nossa voz no dia hoje para ajudar aqueles cujos direitos não estão a ser respeitados, boicotar o comércio que não respeita o trabalhador. Todavia que fazemos nós?
Aproveitamos o feriado para ir com a família ao shopping.
Hoje devia ser um dia de principios, devia ser um dia de serviços mínimos. Foi para isso que o dia do trabalhador foi criado, para dar valor a todas as pessoas cujo trabalho parece pequeno e de rosto invisível mas que se todos deixaissem de o realizar o país parava.
Que valeram as greves, as represálias, os espancamentos, as prisões, as lutas do pré-25 Abril para que hoje tudo esteja na mesma, nesta nossa sociedade "livre"?
Hoje somos escravos da economia, já que para o bem desta todos os meios são justificados e aceites. Somos reféns da precariedade. Somos o brinquedo sexual dos impostos e das crises. A nossa voz não pode ser ouvida, pois pode ser facilmente silenciada por esses seres mesquinhos que encontramos acima de nós. Depois acabamos no olho da rua, sem emprego, sem dinheiro, sem comida na mesa.
Mudando ligeiramente de assunto, antes havia cidadãos de primeira que normalmente incluam a função pública e outros cargos ligados ao estado; e os cidadãos de segunda operários e trabalhores por conta de outrém. Esta distinção era obviamente injusta pois todos descontavam para o mesmo, e todos pagavam impostos para o mesmo.
Agora somos todos cidadãos de segunda, todos peixe-miúdo, todos dispensáveis, comemo-nos uns aos outros por uma côdea. Considero correcto as manifestações que os funcionários públicos estão a realizar para reinvidicar a restituição de alguns dos seus direitos. Todavia considero que essa não é a grande questão, já que tal reside não restuição dos direitos a alguns, mas na atribuição de direitos iguais a todos. A chave está em sermos todos cidadãos de primeira, em sermos todos respeitados. Para isso acontecer temos todos que nos unir e lutar por direitos iguais. Talvez 40 anos depois, um Maio de 2008 esteja a ser a coisa necessária.
O problema é que em Maio começa o circuito de Queimas, e vamos ter toda a população universitária bêbada. E pior é que se pensarmos bem, mesmo que ela estivesse sóbria, a sua estupidez, falta de cultura e umbigo, não permitiria que uma revolução fosse iniciada.
Quantos jovens sabem o que foi o Maio de 68?
Eu por mim cumpro com a minha parte, faço a minha voz ser ouvida e boicoto tudo aquilo que entendo ser uma falha grave dos ideais impostos pelo 25 de Abril.
Isto é como reciclar, se cada um fizer a sua parte as coisas começarão a mudar.
Por último deixo um apelo a toda a gente, mas principalmente às jovens mentes de amanhã que residem nas nossas universidades. Lutemos pelos direitos do povo agora, pois caso contrário amanhã seremos nós que precisaremos de alguém que lute por nós. Esse sim é o verdadeiro espírito universitário, o espírito lutador, empreendedor, violas tocando ao vento, palavras de ordem. Não são só capas traçadas e copos de cerveja, pois se for apenas isso é apenas pura estupidez e egoísmo.
Com o coração apertado posso dizer que hoje o 1º de Maio é o feriado mais oco de significado que temos no calendário.
Valete Frates

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